e numa quinta-feira como outra qualquer, levantou-se (depois de muito dormir) e saíu. saíu de casa, saíu de si e resolveu entrar num qualquer outro sítio para de lá sair diferente. enquanto diferente por dentro ficou diferente por fora. apeteceu-lhe dizer a todos que tinha arranjado uma substítuta, ou melhor que tinha destituído a que normalmente actuava. não o fez. preferiu agir como ela própria agiria numa outra qualquer situação. esperou. a outra dificilmente voltaria a representar. agora é só ela, sem ninguém e com toda a gente a rodeá-la, como sempre. apenas quer arranjar uma agenda nova.
janeiro 04, 2006
Tornar o SOM visível. Tinta. Mas não é tinta, é sangue. Aparecer dói. Só o Desaparecido porque não tem corpo não tem Dor. Desaparecido CONTENTE.
Antecipe-se um desfecho: ultrapassado o habitual pudor e tomada em mãos a tarefa antes rejeitada, enchida e previsivelmente não esvaziada a gaveta, chega o dia (ou a noite, que é como quem diz) em que os despojos de uns representariam a sorte de outros. Sucede que a prudência dos amantes é então confrontada com essa dura (mas mais pequena) realidade de que a graça divina não baixa em todos por igual. O imenso proveito de ontem é a incapacitante decepção de amanhã."
Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim.